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Estresse e Alterações Imunológicas

Estresse e Alterações Imunológicas
Como o estresse pode comprometer o Sistema Imunológico.


É no Sistema Límbico que tem início a função psíquica de avaliação da situação vivida, dos fatos e eventos de vida. Essa avaliação depende sempre de vários elementos, tais como, a personalidade prévia, a experiência vivida, as circunstâncias atuais e as normas culturais.

Acontecem também a partir do Sistema Límbico, as diversas interações entre os sistemas nervoso, endócrino e imunológico, promovendo as interações das percepções córticocerebrais com o hipotálamo.

Estresse, como dissemos, seja ele de natureza física, psicológica ou social, é um termo que compreende um conjunto de reações fisiológicas, as quais, quando exageradas em intensidade e duração, acabam por causar desequilíbrio no organismo, freqüentemente com efeitos danosos.

As primeiras constatações do Estresse emocional foram relatadas em 1943, ao se comprovar um aumento da excreção urinária dos hormônios da Glândula Suprarrenal em pilotos e instrutores aeronáuticos em vôos simulados e, alguns anos antes essas alterações já haviam sido suspeitadas em competidores de natação, momentos antes das provas.

O conceito original de Estresse foi apresentado antes (1936) pelo pesquisador canadense de origem francesa Hans Selye a partir de experimentos, onde animais eram submetidos a situações agressivas diversas (estímulos estressores), e cujos organismos respondiam sempre de forma regular e específica. 

Selye descreveu toda ocorrência do Estresse sob o nome de Síndrome Geral de Adaptação, a qual comportava três fases sucessivas: alarme, resistência e esgotamento. Após a fase de esgotamento, observava o surgimento de algumas doenças, tais como a úlcera péptica, a hipertensão arterial, artrites e lesões miocárdicas.

Existe uma sensibilidade (afetiva) pessoal e particular em cada um de nós, constituindo um conjunto de mecanismos dos quais o organismo lança mão quando reage aos agentes particularmente tidos como estressores, caracterizando a forma como cada pessoa avalia e lida com estas situações. Essa sensibilidade pessoal à realidade explica por que avaliamos desta ou daquela forma as situações tidas como desafiadoras, enfrentando-as ou não, e reagindo a elas de maneiras particulares e pessoais, "permitindo" assim que elas exerçam maior ou menor repercussão sobre o organismo.

Entre 1970 e 1990 foram muito expressivos os experimentos de laboratório que tentavam comprovar a relação entre Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Imunológico. Nessas duas décadas, chegou-se constatar o despovoamento celular do timo em ratos, através da indução de lesões no hipotálamo. Também se demonstrou que lesões destrutivas no Hipotálamo dorsal levavam à supressão da resposta de anticorpos. Isso tudo sugeria que o hipotálamo seria uma espécie de base de integração entre os sistemas nervoso e imunológico na resposta ao Estresse (Moreira, Melo Filho, 1992, Khansari, 1990).

A partir de 1990 constata-se também que alterações ocorridas na hipófise (pituitária) também poderiam determinar modificações imunológicas, visto que a extirpação dessa glândula ou mesmo seu bloqueio farmacológico impedia a resposta imunológico no animal de laboratório (Khansari, 1990).

Uma alteração precoce que se observa durante o Estresse é o aumento nos níveis dos hormônios corticoesteróides (cortisona) secretados pelas Glândulas Suprarrenais. Parece que estes níveis se acham em proporção inversa à eficácia dos mecanismos de adaptação, ou seja, nos casos com capacidade adaptativa adequada os níveis de cortisona não são muitos elevados mas, no caso de pessoas deprimidas, portanto, com severas dificuldades adaptativas, esses níveis são maiores.

Glândula Suprarrenal parece ter um desempenho mais ou menos seletivo no Estresse. Em estados de agressão, enquanto a córtex secreta cortisona, a medula da glândula também participa, liberando noradrenalina (norepinefrina). Nas situações estressoras de tensão e ansiedade a liberação medular privilegia a adrenalina (epinefrina).

Mello Filho reviu esse experimento de 1976, em macacos submetidos a Estresse que apresentavam um aumento dos níveis de 17 hidroxicorticóides, catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), Hormônio Estimulador da Tireóide (TSH) e Hormônio do Crescimento (GH), enquanto se observava um decréscimo dos hormônios sexuais, invertendo-se essa situação à medida que o animal se recuperava.

As catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) afetam as reações imunológicas, seja por reação fisiológica, como por exemplo a contração do baço, seja por estímulo celular através de receptores específicos (adrenérgicos) na membrana celular. O certo é que o aumento das catecolaminas inibe as respostas de anticorpos.

As catecolaminas também podem ter sua liberação condicionada a fatores neuropsicológicos. Num estudo clássico, conseguiu-se experimentalmente a supressão da função imunológica pelo uso de uma substância imunosupressora (ciclofosfamida). Mas essa substância era sempre administrada associada a uma bebida de gosto muito particular e forte, a sacarina.

Depois de algum tempo conseguia-se a supressão imunológica administrando apenas a bebida com sacarina. O organismo associava, assim, o gosto da sacarina com a imunosupressão, caracterizando portanto uma alteração imunológica importante e desencadeada por condicionamento, já que a sacarina não é imunosupressora.
Portanto, como vimos até agora, as células do sistema imunológico encontram-se sob uma complexa rede de influência dos sistemas nervoso e endócrino. Seus mediadores (neurotransmissores e hormônios diversos) atuam sinergicamente com outros produtos linfocitários, de macrófagos e moléculas de produtos inflamatórios na regulação de suas ações.

Experiências dessa natureza sugerem grande variedade de hipóteses sobre a influência das emoções na imunidade. Será a crença no remédio tão importante quanto o próprio remédio? Será que isso ajuda a explicar o efeito dos placebos e da medicina alternativa? Seriam, essas hipóteses, capazes de estabelecer relações entre os estados de ânimo positivos e o aumento da sobrevida de pacientes portadores de AIDS, ou de câncer?

Alguns estudos, elaborados a partir de experiências com primatas, mostram que o apoio social pode ser um importantíssimo modificador dos efeitos deletérios do estresse. Isso sugere a importância do apoio ambiental na saúde da pessoa estressada. Quando o tipo de resposta do indivíduo ao estresse se caracteriza por uma postura de derrota e pessimismo, que são valores culturais, o Sistema Imunológico corre sérios riscos.

Todos os hormônios hipofisários mobilizados no Estresse atuam sobre o sistema imunológico, através de receptores específicos situados nas células linfóides. Mas para compreender melhor os mecanismos hormonais do Estresse, é importante saber que esses hormônios são também produzidos, em pequenas quantidades, por linfócitos.

Outras substâncias produzidas por linfócitos e que participam ativamente das reações de Estresse são as linfocinas e monocinas. Estas substâncias são secretadas por células linfóides e macrófagos, e são dotadas da capacidade de amplificar a inflamação produzida pelas reações imunológicas. Algumas destas linfocinas e monocinas podem influenciar glândulas na liberação de alguns hormônios, como é o caso da Interleucina 1, que volta a estimular a hipófise na liberação de ACTH.

Diversos outros produtos inflamatórios, tais como prostaglandinas, leucotrienos, tromboxanes, etc., produzidos nas mais variadas células, sejam elas linfóides ou não, desempenham alguma influência sobre o sistema imunológico. Na reação ao Estresse eles atuam sobre os Linfócitos T e Macrófagos, estimulando-os ou inibindo-os.

O estresse agudo em humanos, cuja fisiologia é semelhante às reações de luta que se vê no reino animal, geralmente aumenta o numero e a atividade das Células NK. Porém isso só ocorre numa primeira fase dessa atitude de defesa (Coe, 1987 e Nallibof, 1991).

O estresse da vida cotidiana, principalmente nas situações mais exaustivas, tensas e crônicas, pode afetar uma série elementos imunológicos. Entre essas alterações estão as funções de Células T, a atividade de Células NK, a resposta de anticorpos, a função dos macrófagos, a reativação de vírus latentes (como o Herpes Simples), entre outras, com severas implicações na saúde global da pessoa (Glaser). As relações entre o estresse e infecções são bastante antigas e, inúmeras vezes, constatados por trabalhos experimentais, alguns bastante rigorosos (Friedmam).

Segundo Cohem (1991), existe uma grande variedade de vírus intranasais capazes de desenvolver alterações imunológicas, tanto através da produção de anticorpos, quanto de infecções, como uma forma de resposta aos aumentos no grau de tensão psicológica. Cada vez mais trabalhos científicos confirmam efeitos danosos do estresse sobre infecções virais e bacterianas.

Também os hormônios respondem ao estresse, incluindo a adrenalina, os corticoesteróides e as catecolaminas. Esses hormônios têm variadíssimos efeitos na regulação da resposta imune (Buckingham). Em níveis anormais, altos ou baixos, os hormônios afetam a imunidade.

A atividade intergrada entre o Hipotálamo, a Hipófise e as glândulas Suprarenais, conhecido por Eixo Hipotálamo-Hipófise-Suprarenal, é ativado por eventos psicológicos, regulando assim a secreção de hormônios produzidos na Hipófise e destinados às Suprarenais, como é o caso da corticotrofina (CRF) e do hormônio adrenocorticotrofico (ACTH). Esses, por sua vez, terão efeitos diretos na imunidade.

O hormônio do crescimento, também estimulado por eventos psíquicos, pode aumentar as funções dos Linfócitos T NK em animais de experiência. Os hormônios sexuais também afetam a imunidade. A atividade da Célula NK é mais alta na fase lútea de ciclo menstrual e é também estimulada pelos hormônios da tireóide. 

A psiconeuroimunologia está, assim, se desenvolvendo a passos largos, colaborando fortemente para apagar o incômodo dualismo ainda presente na medicina, o qual separa hermeticamente a mente do corpo.

A Psiconeuroimunologia contribui para que os pacientes possam compreender que seu corpo é uma somatória integrada e indissolúvel do mental com o orgânico, influenciado significativamente pela experiência de vida e por sua própria sensibilidade. Finalmente, a psiconeuroimunologia não só deve contribuir solidamente para a compreensão da fisiopatologia médica como da visão holística da medicina.

 

 

Referências
João Hamilton Romaldini - 
Tratamento do hipertiroidismo: o que realmente há de novo? - Arq Bras Endocrinol Metab v.45 n.6 São Paulo dez. 2001
Miriam C. Oliveira, Arthur A. Pereira Filho, Tiago Schuch, Wilma Lucy Mendonça - 
Sinais e Sintomas Sugestivos de Depressão em Adultos Com Hipotireoidismo Primário 
Arq Bras Endocrinol Metab v.45 n.6 São Paulo dez. 2001
Clarnette RM, Peterson CJ - Hypothyroidism: does treatment cure dementia? J Geriatr Psychiatry Neurol 1994;7:23-7.
Moreira MD, Melo Filho J - Psicossomática Hoje, Artes Médicas, RS, 1982

Khansari D N - Effects of stress on the immune system - Immunol. Today, v.11, no. 5, p.170, 1990 
Ballone GJ, Ortolani IV, Pereira Neto, E - Da Emoção à Lesão, ed. Manole, 2002.

 

 

 

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